Drogas

Nunca foi tão fácil

A cultura das drogas dos anos 60 ruiu.
Mas essas substâncias continuam fazendo
parte do cotidiano dos adolescentes



Os preços estão baixíssimos
Entre 1 e 2 reais é o custo de um cigarro de maconha
10 reais é o custo de 1 grama de cocaína


Sabe qual é a probabilidade hoje de um adolescente ter algum tipo de contato com o mundo das drogas? Cem por cento. Quarenta e dois por cento deles já viram alguém sob o efeito de substâncias proibidas. Os que não viram, de três, uma. Ou têm um amigo viciado, ou já foram a uma festa onde havia consumo de drogas, ou sabem quem é o traficante do bairro. O acesso aos tóxicos nunca foi tão fácil. Os preços caíram. Com 10 reais – valor de uma entrada de cinema – é possível comprar 1 grama de cocaína. A maconha está ainda mais barata.

Para adquirir um cigarro, basta ter 1 ou 2 reais. Soam românticos os tempos em que se imaginava que o primeiro contato de um adolescente com as drogas poderia ocorrer por intermédio de um lendário traficante disfarçado de pipoqueiro. Hoje, sabe-se que os entorpecentes são vendidos dentro do próprio colégio, por um aluno que trafica em troca de dinheiro para financiar seu vício. Pior: ele pode ser um colega de classe.



Drogas rondam a escola
Esqueça o pipoqueiro. Pequenos traficantes vendem seu produto nas proximidades dos colégios. Alguns alunos traficam dentro das escolas em troca de consumo próprio

Impossível evitar o contato
42% dos jovens testemunharam alguém sob efeito de drogas
24% viram alguém vendendo drogas¹

A grande questão para os pais não é mais evitar que seu filho tenha contato com drogas. Isso é praticamente impossível. O desafio é que ele não se torne um dependente. Como fazer isso? Em primeiro lugar, faz-se necessário saber o que leva um adolescente a provar substâncias proibidas. O senso comum falaria em desajustes familiares, frustrações, problemas em casa e na escola. Segundo a maior parte dos especialistas, a resposta é bem mais prosaica e se resume a uma palavra: curiosidade. "Para muitos adolescentes, provar a droga faz parte do ritual da adolescência. É como 'ficar' pela primeira vez", acha o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A curiosidade leva a garotada a experimentar, mas apenas uma minoria desenvolve o vício. O jovem pode tornar-se um consumidor compulsivo, aí sim devido a frustrações e problemas familiares. "Se o adolescente estiver passando por um momento difícil, fica mais fácil chegar à dependência", opina o psicólogo Luciano Chati, que dá cursos em escolas sobre prevenção contra o uso de drogas.

Há outro aspecto interessante. De acordo com um levantamento feito pelo governo dos Estados Unidos, o caminho em direção às drogas pesadas começa pelo álcool e pelo tabaco. "Essa migração nem sempre é obrigatória, mas adolescentes que fumam cigarro e bebem estão predispostos a experimentar outras drogas", alerta o psiquiatra Sérgio Nicastri, mestre pela universidade americana Johns Hopkins e especialista vinculado ao Hospital das Clínicas de São Paulo. A pesquisa do governo americano diz que o uso, mesmo que esporádico, de cigarros comuns aumenta em 65 vezes a probabilidade de que o fumante venha a provar maconha. E quem já teve contato com a erva corre 104 vezes mais risco de experimentar uma carreira de pó. Isso ocorre, segundo Nicastri, porque depois de tomar alguns copos de cerveja o jovem se torna mais receptivo se alguém oferecer um baseado. Se o "barato" está ali disponível, o que custa experimentar? "É próprio do adolescente buscar o prazer sem se importar com as conseqüências", diz o psiquiatra.

Dessa forma, fica praticamente inevitável concluir o óbvio: o lar onde existe diálogo tende a ser a melhor defesa contra os conflitos e frustrações que transformam a curiosidade em vício. A atitude dos pais também é muito importante. Aqueles que bebem compulsivamente na frente dos filhos, por exemplo, dando a entender que é um hábito natural, são um péssimo exemplo. Como se viu, o álcool é, muitas vezes, a porta de entrada para o mundo das demais drogas.


A cultura das drogas dos anos 60 ruiu. Mas essas substâncias continuam fazendo parte do cotidiano dos adolescentes. Saiba mais lendo pesquisas sobre o uso de drogas no Brasil

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3G2vwr4bIi8aZ4-WXIekDl0hEMH6Inz4aKSu6BVXVdcgVBHwa7mSLjM65jb0GWjfKfFzx7ecRPVFVc_VNIwHZc4Mc4avoRRdBLWK4HYzNFiTCvR1MTc2y30jiEdacKm_JC6k0WmIWYWP-/s320/Tudo+sobre+drogas.gif

Entre os estudantes de 1º e 2º graus, o álcool é a droga mais amplamente utilizada, muito à frente do tabaco, que é o segundo colocado. Apenas 0,9% dos estudantes tentaram e não conseguiram comprar bebidas alcoólicas. Cerca de 50% dos alunos entre 10-12 anos já fizeram uso dessa droga.

O uso inicial do tabaco é bastante precoce na vida dos estudantes da rede pública de ensino. Aos 10-12 anos de idade, cerca de 11,6% já fizeram pelo menos uso experimental dessa substância.

Consideram muito fácil conseguir (faixa etária 12-17 anos):

- maconha: 66,1%
- cocaína: 57.5%
- crack: 57,1%
- LSD: 30,4%
- heroína: 33,3%
- solventes (esmalte, acetona, removedores, gasolina): 82,7%
- benzodiazepínicos (ansiolíticos): 44,3%
- anfetamínicos: 42,1%
- anticolinérgicos: 39,1%
- esteróides / anabolizantes: 50,3%

Prevalência de pessoas afirmando que alguém:

- se aproximou para vender drogas nos últimos 30 dias prévios à entrevista:
Faixa etária 12-17 anos: 7,1%
Faixa etária 18-24 anos: 8,7% :: Meninos: 9,4%

- visto alguém bêbado nas vizinhanças (nos últimos 30 dias prévios à entrevista):
Faixa etária 12-17 anos: 63,2%
Faixa etária 18-24 anos: 66,7%

- visto alguém "doido" sob efeito de drogas (nos últimos 30 dias prévios à entrevista):
Faixa etária 12-17 anos: 42,2%
Faixa etária 18-24 anos: 41,9%

- vendendo drogas (nos últimos 30 dias prévios à entrevista):
Faixa etária 12-17 anos: 23,7%
Faixa etária 18-24 anos: 22,1%

- alguém procurando por traficantes (nos últimos 30 dias prévios à entrevista):
Faixa etária 12-17 anos: 24,4%
Faixa etária 18-24 anos: 23,2%



0 ;D:

Postar um comentário